terça-feira, março 02, 2010

Se há governo sou contra!

Está na moda ser anti-qualquer-coisa no Facebook

Se o Facebook já existisse há 100 anos, o jovem Almada Negreiros poderia ter criado um grupo em vez de escrever o Manifesto Anti-Dantas. O grupo poderia chamar-se "O Dantas usa ceroulas de malha" ou "Se o Dantas é portuguez eu quero ser hespanhol!". E, provavelmente, teria dezenas de milhares de membros. É que para cada grupo de apoio a uma causa ou pessoa, há dez grupos que odeiam qualquer coisa. Não admira: esta é a forma mais fácil de expressar desagrado de forma gratuita e potencialmente massiva. O fenómeno assenta que nem uma luva na ideia de que a internet promove a liberdade de expressão e a formação de grupos unidos por algo em comum. O problema é que a proliferação de grupos que detestam tudo e mais alguma coisa, desde a série juvenil "Morangos com Açúcar" aos taxistas de Lisboa, domingos e despertadores, resulta na inconsequência dos grupos com outro tipo de causas. Alguém notou diferenças nas músicas dos supermercados Pingo Doce depois de o grupo que quer acabar com elas ter juntado quase nove mil membros? Nada. O jogo do Facebook "Farmville" acabou porque se formaram dezenas de grupos a pedir a sua extinção? Não. Embora as marcas e organizações estejam cada vez mais sensibilizadas para o que delas se diz nas redes sociais, a facilidade com que se cria um grupo por tudo e por nada dissolve a sua importância. Pelo contrário, a lista de grupos a que cada "facebooker" pertence diz muito mais da sua personalidade do que qualquer linha de autodestruição possa escrever. Chegámos à era em que qualquer má experiência com uma empresa é motivo para fundar um grupo "anti" qualquer coisa. Qualquer azia com um objecto dá direito a um grupo do contra. Acima de tudo, o Facebook é usado pelos portugueses anónimos como um espaço onde toda a crítica é permitida. À falta de uma sólida sociedade civil, temos os grupos anti-Sócrates, anti-tabaco e anti-alho francês.

Estranhos e incorrectos
Nem todos os grupos "anti" sobrevivem ao lápis azul do Facebook, pelo que é aconselhável ler as condições de utilização antes de apelar ao linchamento do primeiro-ministro ou chamar nomes feios ao vizinho do lado.  De facto, a rede social liderada por Mark Zuckerberg já eliminou grupos politicamente incorrectos, como os que negavam a existência do Holocausto, por exemplo. Mesmo assim, sobrevivem bizarrias no Facebook. Por exemplo, o grupo "Odeio ver um deficiente motor a andar na rua e não conseguir conter o riso!", que compreensivelmente só tem um membro. Ou "Homossexuais vão destruir a sociedade portuguesa!!!", cujo símbolo mostra "No Gays" e tem 433 membros. E ainda o "PFF Assassinem o Sócrates", que tem apenas um simpatizante.

Depois há os engraçados. As pessoas que detestam ouvir "verde, código, verde", as que foram almoçar e disseram mal do Mário Crespo e as que detestam decorações de Natal fora de época.


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A Diptera que te pariu.

Apesar de novo este moscardo já viu muita merda. Autor consagrado, dá agora vida a uma curiosa mosca que pode muito bem corresponder ao seu alter-ego. Numa entrevista que deu recentemente a uma publicação, de que não me lembro o nome, comentou a este propósito: “Até pode ser. Todos sabem que sempre tive uma asa pessoana e que curto essa coisa dos heterónimos. Agora, daí a dizerem que sou bipolar é um exagero. Gostava, mas já não tenho tempo para gerir a minha vida quanto mais duas.”

Mas afinal quem é esta mosca que nos faz rir com assuntos que até dão vontade de chorar?

O desmesurado tamanho dos olhos, mais do que miopia, revela uma profunda atenção a tudo o que o rodeia. As asas espelham uma atitude irrequieta que faz com que salte da merda do futebol para a merda da política, com a mesma facilidade com que pousa num croquete servido numa inauguração de merda ou na borda de uma das sanitas das casas de banho da procuradoria-geral da república.

É a mosca da televisão, a mosca na sopa das figuras públicas nacionais e estrangeiras e fica com a mosca sempre que pousa numa situação de merda.Adorava ser mosca para assistir aos esquemas dos corruptos, aos conselhos de ministros e aos banhos da Angelina Jolie.

Uma mosca que promete uma picada diária e que tudo fará para que nunca virar uma mosquinha morta.

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